sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

LISTAS INDIVIDUAIS DOS CINÉFILOS DA ACCPA- FILMES DE 2023

 

Com a criação da APCC (Associação Paraense de Críticos Cinematográficos, em 1962, tornou-se uma tradição o registro dos melhores filmes do ano em Belém. Membros efetivos e temporários escreviam textos sobre cinema, na imprensa, sendo incluídos no grupo de cinéfilos com direito a eleger seus melhores filmes no final de cada ano. O caminho levou a Associação a uma certa institucionalização, com regulamento & tudo, com nova dimensão do grupo culturalmente integrado ao formato de sua nascença em 1962.

Como aliado, instituiu-se a criação de um Cineclube. Uma caminhada, a sensação de manter vivo no Pará o germe do interesse sobre essa arte e sua linguagem, criou travessias, frestas, encontros, ou seja, atividades entre cinéfilos engajados com essa política de formação de plateias para o cinema. Além de Pedro Veriano, eu presidi a ACCPA e hoje, quem está na vez, é Marco Antonio Moreira. Um presidente e um incentivador da Sétima Arte em todos os espaços que seja possível a divulgação do cinema. Marco está assegurando essas atividades, mesmo que nesses anos de pandemia a atividade presencial tenha perdido a força, operando-se com a perspectiva virtual e a dinâmica do colega ser redator de uma coluna de cinema, realização de lives temáticas e programas de rádio etc. Alguns cinéfilos integrados à Associação têm seguido os melhores filmes lançados principalmente nas plataformas de streaming. Esse foi um passo necessário e promissor porque hoje em dia todo mundo sabe que “tratar de cinema”, não é somente “assistir aos filmes”, e dizer “gostei ou não gostei”, mas estudar a sua linguagem.

No ano de 2023, mesmo com as dificuldades de exibição e um pequeno público presencial em lançamentos de filmes, salvando-se os canais de streaming, mais uma vez houve a escolha dos melhores filmes da ACCPA, surgindo uma lista geral significativa. Neste espaço hoje registro a lista individual dos colegas: Pedro Veriano, Luzia Álvares, Marco Antonio Moreira, Augusto Pacheco, Fernando Segtowick, Ismaelino Pinto, Dedé Mesquita e Lorenna Montenegro.  No final, a Lista Geral.

PEDRO VERIANO

1º - Assassinos da Lua das Flores (de Martin Scorsese)

2º - Oppenheimer (de Christopher Nolan)

3º - O Mundo Depois de Nós (de Sam Esmail)

4º -Retratos Fantasmas (de Kleber Mendonça Filho)

5º - Tár (de Todd Field)

6º - O Assassino (de David Fincher)

7 º - EO (de Jerzy Skolimowsk)

8º - Os Fabelmans (de Steven Spielberg)

9º -Elas por Elas – (de Silvia Carobbio e Catherine Hardwicke)

10º - Vidas que se Encontram (de Rob Diamond)

 

CATEGORIAS:

Direção: Martin Scorcese (Assassinos da Lua das Flores)

Ator: Leonardo Di Caprio ((Assassinos da Lua das Flores)

Atriz: Julia Roberts (O Mundo Depois de Nós)

Melhor Roteiro Original: Tár

Melhor Cabelo e Maquiagem: Assassinos da Lua das Flores

Melhor Efeito especial: Oppenheimer

Melhor figurino: O Conde

Melhor trilha musical: Oppenheimer

 

LUZIA ÁLVARES

1.       Oppenheimer (de Christopher Nolan)

2.       Close ( de Lukas Dhont)

3.       EO ( de Jerzy Skolimowsk)

4.       Tár (de Todd Field)

5.       Assassinos da Lua das Flores (de Martin Scorsese)

6.       Retratos Fantasmas (de Kleber Mendonça Filho)

7.       Doente de Mim Mesma ( Kristoffer Borgli)

8.       Os Fabelmans (de Steven Spielberg)

9.       Passages ( de Ira Sachs)

10.     Maestro (de Bradley Cooper)

CATEGORIAS:

Direção: Christopher Nolan (Oppenheimer)

Ator: Cillian Murphy ( Oppenheimer)

Atriz: Lily Gladstone (Assassino da Lua das Flores)

Atriz Coadjuvante: Rooney Mara ( Entre Mulheres)

Ator Coadjuvante: Robert de Niro (Assassino da Lua das Flores)

Roteiro Original:  Tár (Todd Field)

Roteiro Adaptado: Assassinos da Lua das Flores (de Martin Scorsese)

Melhor Animação: Elementos (Disney/Pixar de Peter Sohn)

Melhor Documentário: Porta Amarela, O Cine Clube Dos Anos 90 (sul-coreano, dirigido por Lee Hyuk)

Melhor Montagem: Oppenheimer

Melhor Fotografia: Assassino da Lua das Flores

Direção de Arte:  Tár

Melhor Som: Oppenheimer

Melhor Trilha Sonora: Oppenheimer

Melhor Canção:  Sem referência

Melhores Efeitos Especiais: Assassinos da Lua das Flores

Melhor Figurino: Maestro

Melhor Cabelo e Maquiagem: Assassinos da Lua das Flores

 

MARCO ANTONIO MOREIRA

1) “Assassinos da Lua da Flores” de Martin Scorsese

2) “Retratos Fantasmas” de Kleber Mendonça Filho

3) “Tár” de Todd Field

4) “Close” de Lukas Dhont

5) “Memórias de Paris” de Alice Wincour

6) “Oppenheimer” de Christopher Nolan

7) “Elis e Tom, Só tinha que ser com você” de Roberto de Oliveira

8) “EO” de Jerzy Skolimowski

9) “Passages” de Ira Sachs

10) “A Baleia” de Darren Aronofsky

CATEGORIAS

Melhor direção: Martin Scorsese (Assassinos da Lua das Flores).

Melhor ator: Robert de Niro (Assassinos da Lua das Flores).

Melhor atriz: Cate Blanchet (Tár).

Melhor Ator Coadjuvante: Eden Dambrine (Close).

Melhor atriz Coadjuvante: Nina Hoss (Tár)

Melhor Roteiro original: Todd Field (Tár)

Melhor Roteiro Adaptado: Martin Scorsese e Eric Roth (Assassinos da Lua das Flores)

Melhor Trilha Musical: Robbie Robertson (Assassinos da Lua das Flores) e Tom Jobim (Elis e Tom Só tinha que ser com você)

Melhor Fotografia: Rodrigo Prieto (Assassinos da Lua das Flores)

Montagem: Jennifer Lamme (Oppenheimer)

Melhor Direção de arte: Jack Fisk (Assassinos da Lua das Flores)

Melhor Figurino: Jaqueline West (Assassinos da Lua das Flores)

Melhor Som: Oppenheimer

Melhor Animação: “Elementos”.

Melhor Efeito Especial: “Oppenheimer”.

Melhor Documentário: “Retratos Fantasmas” de Kleber Mendonça Filho e “Elis e Tom, Só tinha que ser com você” de Roberto de Oliveira.

 

AUGUSTO PACHECO

1) Beau está com medo, de Ari Aster.

2) Elis & Tom – Só tinha que ser com você. De Roberto Oliveira e Jom Tob Azulay

3) Capitu e o Capítulo. De Júlio Bressane.

4) Oppenheimer, de Christopher Nolan

5) Batem à Porta.  Direção: M. Night Shyamalan

6) Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho

7) Noites Alienígenas, de Sérgio de Carvalho

8) O assassino, de David Fincher (Seven, Clube da Luta)

9) Os Delinquentes, de Rodrigo Moreno

10) Asteroid City, de Wes Anderson

Estranha forma de vida, de Pedro Almodóvar

Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese

 

LORENNA MONTENEGRO

1º - Barbie (de Greta Gerwig)

2º - Tár (de Todd Field)

3º - Os Banshees de Inisherin (de Martin McDonagh)

4º - Saltburn (de Emerald Fennell)

5º - Anatomia de uma Queda (de Justine Triet)

6º - Assassinos da Lua das Flores (de Martin Scorsese)

7º - Bottoms (de Emma Seligman)

8º - O Assassino (de David Fincher)

9º - How To Have Sex (de Molly Manning Walker)

10 - Wonka (de Paul King)

 

CATEGORIAS:

Direção: Greta Gerwig (Barbie)

Ator: Barry Keoghan (Saltburn)

Atriz: Sandra Huller (Anatomia de Um Crime)

Atriz Coadjuvante: Rosamund Pike (Saltburn)

Ator Coadjuvante: Robert de Niro (Assassino da Lua das Flores)

Roteiro Original: Barbie (Greta Gerwing e Noah Baumbach)

Roteiro Adaptado: Assassino da Lua das Flores

Melhor Animação: Nimona

Melhor Documentário: Retratos Fantasmas

Melhor Montagem: Barbie

Melhor Fotografia: Assassino da Lua das Flores

Melhor Direção de Arte: Barbie

Melhor Som: Oppenheimer

Melhor Trilha Sonora: Tár

Melhor Canção: I’m Just Ken; Barbie

Melhores Efeitos Especiais: Wonka

Melhor Cabelo & Maquiagem: Barbie

Melhor Figurino: Saltburn

Filme Nacional: Tia Virginia, de Fábio Meira

 

FERNANDO SEGTOWICK

1)       Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorcese

2)       Close, de Lukas Dhont

3)       Os Fabelmans, de Steven Spielberg

4)       Passages, de Ira Sachs

5)       Holly Spider, de Ali Abbasi

6)       Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho

7)       Homem Aranha: Através do Aranhaverso, de Joaquim Dos Santos, Justin K. Thompson, Kemp Powers,

8)       Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund

9)       Pacifiction, de Alberto Serra

10)     Eo, de Jerzy Skolimowski

Menção especial ao curta paraense “Cabana” de Adriana de Faria

 

ISMAELINO PINTO

1 - Assassinos da Lua das Flores

2.  Oppenheimer 

3.  Os Banshees de Inisherin

4 - Os Falbemans 

5 - Babilônia. 

6.  Tár 

7 -  Maestro

8 - Retratos Fantasmas

9 - Golda 

10. Sem Ursos

 

                              DEDÉ MESQUITA

1º - Assassinos da Lua das Flores (de Martin Scorsese)

2º - Oppenheimer (de Christopher Nolan)

3º - Os Banshees de Inisherin (de Martin McDonagh)

4º - Anatomia de uma Queda (de Justine Triet)

5º - Saltburn (de Emerald Fennell)

6º - Tár (de Todd Field)

7º - Elis & Tom - Só Tinha que Ser Com Você (de Roberto de Oliveira & Jom Tom Azulay)

8º - O Conde (de Pablo Larraín)

9º - Os Fabelmans (de Steven Spielberg)

10 - O Mundo Depois de Nós (de Sam Esmail)

CATEGORIAS:

Direção: Christopher Nolan (Oppenheimer)

Ator: Barry Keoghan (Saltburn)

Atriz: Lily Gladstone (Assassino da Lua das Flores)

Atriz Coadjuvante: Rosamund Pike (Saltburn)

Ator Coadjuvante: Robert de Niro (Assassino da Lua das Flores)

Roteiro Original: Barbie (Greta Gerwing & Noam Baumbach)

Roteiro Adaptado: Oppenheimer

Melhor Animação: Elementos

Melhor Documentário: Retratos Fantasmas (de Kleber Mendonça Filho)

Melhor Montagem: Oppenheimer

Melhor Fotografia: Assassino da Lua das Flores

Direção de Arte: Barbie

Melhor Som: Oppenheimer

Melhor Trilha Sonora: Oppenheimer

Melhor Canção: (sem voto)

Melhores Efeitos Especiais: Napoleão

Melhor Cabelo & Maquiagem: Barbie

Melhor Figurino: O Conde

Filme Nacional: Tia Virginia 

 

    

MELHORES DO CINEMA EM 2023 (ACCPA)

1)    Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese (61 pontos)

2)    Oppenheimer, de Christopher Nolan (49 pontos)

3)    Tár  ,de Todd Field (40 pontos)

4)    Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho (34 pontos)

5)    Close, de Lukas Dhont (25 pontos)

6)    Os Banshees de Inisherin ,de Martin McDonagh (24 pontos)

7)    Os Fabelmans, de Steven Spielberg (23 pontos)

8)    Elis e Tom, Só Tinha que ser com você, de Roberto de Oliveira (17 pontos)

9)    EO, de Jerzy Skolimowski (16 pontos)

10)  Saltburn, de Emerald Fennell (13 pontos)

CATEGORIAS

Melhor Diretor: Martin Scorsese (Assassinos da Lua das Flores) e Christopher Nolan (Oppenheimer)

Melhor Ator: Barry Kheogan (Saltburn)

Melhor Atriz: Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores)

Melhor Ator Coadjuvante: Robert de Niro (Assassinos da Lua das Flores)

Melhor Atriz Coadjuvante: Rosamund Pike (Saltburn)

Melhor Roteiro Original: Todd Field (Tár)

Melhor Roteiro Adaptado: Martin Scorsese e Eric Roth (Assassinos da Lua das Flores)

Melhor Animação: Elementos

Melhor Documentário: Retratos Fantasmas de Kleber Mendonça Filho

Melhor Montagem: Jennifer Lamme (Oppenheimer)

Melhor Fotografia: Rodrigo Prieto (Assassinos da Lua das Flores)

Melhor Direção de Arte: Barbie

Melhor Som: Oppenheimer

Melhor Canção: “Steal the show” de Elementos

Melhor Efeitos Especial: Oppenheimer

Melhor Figurino: O Conde

Melhor Trilha Musical: Oppenheimer

Melhor Cabelo e Maquiagem: Assassinos da Lua das Flores

 

Participantes da votação: Pedro Veriano, Luzia Álvares, Marco Antonio Moreira, Augusto Pacheco, Fernando Segtowick, Ismaelino Pinto, Dedé Mesquita e Lorenna Montenegro. 

 

Menções especiais:

Ao querido professor Francisco Cardoso por sua amizade e colaboração com a ACCPA

Realização do I Seminário de Crítica Cinematográfica da ACCPA

Ao curta paraense “Cabana” de Adriana de Faria

A realização do Festival Etnográfico do Pará

O retorno das atividades de exibição do Cine Líbero Luxardo

A expectativa pelo retorno das atividades do Cinema Olympia em 2024

A importância do canal Mubi no panorama de canais de streaming por disponibilizar filmes de diversas nacionalidades

Observação: não tiveram pontuação para a lista geral os filmes que não foram exibidos nos cinemas de Belém em 2023 ou que não foram disponibilizados em canais de streaming esse ano.

 Agradecemos a participação de todos os associados.

 Feliz 2024 com muita saúde e paz para todos.

 

I Seminário de Crítica Cinematográfica da Amazônia Paraense - ACCPA

 

 O I Seminário de Crítica Cinematográfica da Amazônia Paraense foi conduzido com sucesso por meio de uma colaboração entre a Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA) e a Fundação Cultural do Pará (Casa das Artes). O evento abrigou uma série de debates envolvendo críticos, convidados e o público, proporcionando uma plataforma rica para a discussão sobre crítica cinematográfica.

 Um dos momentos de destaque do seminário foi a participação da professora e crítica de cinema, Luzia Álvares, bem como a contribuição de Pedro Veriano por meio de uma gravação e texto incluídos na realização do evento. Eles ofereceram pensamentos valiosos sobre o significado da crítica de cinema. Essas contribuições enriqueceram o diálogo e nossa compreensão dessa importante atividade de reflexão sobre o cinema.

 

A intenção é que este seminário seja realizado anualmente, estabelecendo um espaço contínuo para fomentar reflexões e discussões sobre a crítica cinematográfica e sua relevância. Agradecemos a equipe da Casa das Artes e todos que participaram e prestigiaram esta ação de promoção da cultura cinematográfica.

 

Texto do crítico de cinema e pesquisador Pedro Veriano apresentado no encerramento do I Seminário de Crítica Cinematográfica da Amazônia Paraense: 

 

“Fazer crítica de filme não é só dizer o que gostou de ver ou não gostou de ver. É sobretudo compreender como alguém se expressou em imagens e som. Para isso não é só levar em conta o enredo. É todo um trabalho de realização, de como o cineasta soube dizer o que pensou ou sentiu.

Há filmes que se realizam nos moldes tradicionais, usando o que se chama “linguagem linear”. E há quem possa incitar uma nova leitura partindo do ponto em que o diretor do filme seja um autor, usando o que se vê como um conjunto que expressa um projeto criador, algo que use as imagens como a tradução de um pensamento, uma ideia ou um estímulo intelectual que traduza alguma coisa.

O jogo de planos e movimentos de câmera traduzem um projeto intelectual que estimule o senso crítico de quem vê. E no bojo desse estímulo diga como o autor se porta diante de uma realidade, mesmo que esta realidade seja incorporada à fantasia (ou usar a fantasia como um meio de exprimir a realidade).

Criticar um filme é expressar o que está na imagem projetada".

 

Propostas do I Seminário de Crítica Cinematográfica da Amazônia Paraense:

Uma das propostas realizadas no I Seminário de Crítica Cinematográfica da Amazônia Paraense pelo crítico de cinema Marco Antonio Moreira se refere a promoção da criação de cinematecas e cineclubes em nosso estado. Acreditamos que uma das maneiras mais eficazes de fomentar a cultura cinematográfica é viabilizar meios para a exibição de filmes de diversas origens. Os DVDs e Blu-rays estão gradativamente perdendo espaço na vida das pessoas que, em grande parte, passam a depender apenas do conteúdo disponível nos serviços de streaming. Consequentemente, mais do que nunca, incentivar a criação de cinematecas e cineclubes se torna uma ação crucial para a promoção da cultura cinematográfica. Isso deve ser um esforço conjunto de todos nós que compreendemos a importância de estudar cinema através da apreciação e análise das obras cinematográficas.

Outra proposta foi apresentada por Luzia Álvares cuja exposição temática evidenciou o formato e o processo de construir os textos sobre a crítica de filmes. Propôs a criação de um grupo de estudos sobre a linguagem cinematográfica, fundamento das teorias sobre o processo de identificação histórica e teórica dos elementos cinematográficos para que, dessa forma, fossem identificados os meios interpretativos do objeto filme como fotografia, montagem, enquadramento e demais elementos narrativos. Essa proposta levou em conta ainda as várias temáticas tratadas pelos expositores nos três dias de discussão sobre a crítica cinematográfica, haja vista a preocupação de todos com os efeitos da cinefilia e do discurso crítico. Uma literatura escolhida pelos membros da ACCPA e demais parceiros/as, seria eficaz para garantir a leitura sobre os fundamentos necessários para a construção de discursos de crítica cinematográfica. A metodologia utilizada seria a leitura dirigida (acompanhamento pelo grupo da leitura de um texto/livro/tema com discussão simultânea). O meio virtual, o horário e a inscrição de interessados/as, seriam parte do planejamento para essa ação pós-seminário. A data para início seria em março-2024.

Marco Antonio Moreira/ Luzia Álvares

ACCPA

 


terça-feira, 24 de outubro de 2023

GIGI, O MUSICAL DA METRO, 1958



Fazendo um giro pelos antigas comédias musicais da MGM temos assistido cópias de clássicos de nossa videoteca, como: “Corações Enamorados” (1954, de Gordon Douglas), “Cantando na Chuva” (1952, de Gene Kelly e Stanley Donen), “A Roda da Fortuna” (1954, Vincent Minelli), “Meias de Seda” (1957, de Rouben Mamoulian), com as canções, danças  e coreografias admiráveis de Fred Astaire, Gene Kelly, Cid Charisse, Leslie Caron, Donald O’Connor, Debbie Reynolds e outras e outros que movimentavam as telas nesse período, meados e final da década de 1950.

Recentemente foi a vez de assistir “Gigi” (1958), de Vincent Minnelli baseado na novela homônima de 1944, de Colette (1873-1954), protagonizado por Leslie Caron, Maurice Chevalier, Louis Jourdan, Eva Gabor e outras/os. Com produção de Arthur Freed. Esse filme é muito amado pela nossa família e hoje, acho que vou ser persona non grata para elas/eles por uma avaliação que extrai do que assisti pela enésima vez, mas somente agora revi com um olhar diferente.

Em 1959, “Gigi” foi vencedor de nove estatuetas do Oscar entre as principais categorias às quais concorreu, e, também, do Globo de Ouro, dos Críticos de Cinema de NY, do David de Donatello e outros prêmios.

A primeira sequência articula-se com o olhar e a declaração de Honoré Lachaille (Maurice Chevalier) monologando para a câmera à vista da avenida principal de Paris onde as carruagens e lindas mulheres e seus pares passeiam. Ao cantar “Thank Heaven for Little Girls” (Graças aos Céus, pelas menininhas) esboça a sua opinião de um homem da alta classe social sobre as mulheres na Belle Époque, na virada do século XX, com os homens “caçando” as mulheres para mostrar o poder da riqueza e de sua virilidade. Estas se submetem aos cavalheiros que a presenteiam - e, na opinião do velho senhor, um caçador inveterado - elas não querem casar porque esta situação não lhes dá a liberdade de viver como querem. O sobrinho, Gaston (Louis Jourdan), também um “bom vivant”, se apaixona por uma garota sua conhecida, então adolescente e mais adiante, jovem, Gigi (Leslie Caron) e procura afastar-se da lâmina das fofocas sociais sobre ser um homem frívolo naquele ambiente. Mas não deixa de cruzar com os ensinamentos do tio Honoré (Maurice Chevalier) que lhe oferece todas as facilidades de mostrar como se trata uma mulher.

Gigi obedece, ingenuamente, os conselhos de suas tias que a ensinam a ter uma postura glamourosa, saber servir, escolher joias, comer, acender o charuto do parceiro, aprendendo para o futuro a conviver com os homens que circulam nos clubes, o happy end das garotas de sua classe social, que devem ser desejadas e converter esses desejos em conquistas, sem que haja casamento. Nesse aspecto, a prostituição é tratada como uma profissão nobre, passando de geração em geração, conforme a história da personagem e suas tias.

A argumentação de Gaston para Gigi considera a amizade entre eles, o tempo de conhecimento familiar, contudo, a arte de bem viver da garota já está armada pelas tias. Não pela avó Mamita (Hermione Gingold).

Na outra ponta, o velho tio Honoré tende a criar o formato do modelo masculino que o sobrinho Gaston deve seguir com as mulheres, inclusive o tratamento agressivo às namoradas, com predomínio da violência moral. E se alguma delas optar pelo aparente suicídio é triunfo masculino.

O enredo constrói uma suposta “história de amor” quando, na verdade, criam-se elementos para identificar a pedofilia e a prostituição infantil, numa perspectiva de normalidade e marcada pelas belíssimas melodias e pelo fausto da produção. Cenários magníficos, obedecem a uma direção de arte enriquecida com a qualidade dos figurinos, fotografia exemplar em locação onde se dá o desempenho da iluminação com destaque, a exemplo, da recriação do restaurante “Maxim’s, o espaço em que a nova e a velha geração de homens ricos apresentam as suas conquistas femininas. Nesse ambiente há sequências “congeladas”, fixas, apresentando figuras que chegam ou que saem do salão, quando alguma fofoca entra em cena.

O diretor Vincent Minelli e sua mágica em criar narrativas dialógicas com elementos cativantes interage entre os recortes dos vários percursos da vivência das personagens. E o musical deixa o rastro da suntuosidade e do apelo à simpatia do público.

No momento em que avaliei essa perspectiva do filme de Vincent Minelli, captando essas insinuações sobre machismo, procurei ler as características da literatura de Colette e num dos posts há o registro: “Colette conhecia a literatura decadente do final do século, quase sempre masculina e exacerbada, mas era uma criadora com um mundo próprio e uma visão ajustada do mundo emocional das mulheres.”

“Gigi” é uma novela e toda ela narrada em diálogos entre os personagens. Li o texto e percebi que é o mesmo usado na estrutura narrativa do filme de Minelli.

O diálogo final entre Gaston e Mamita revelam um acordo diferente daquele que obriga Gigi ser a cortesã do Maxins’s, no pedido de casamento que este faz à amiga. Pergunto: essa atitude tende a salvar a exposição machista do filme? Com a palavra as/os que já assistiram “Gigi”.

Continuo a gostar do filme, aplicando as críticas que me levam a avaliar o lado moral que expressa a argumentação machista. (Luzia Álvares)

 


A BARBIE QUE EU DEIXEI DE LADO

 



A garota que eu fui era apaixonada por bonecas. De pano, em princípio. Minha mãe cortava e costurava à mão. O tecido era de morim branco. Os vestidinhos de chita, coloridos, dando o suporte da cara com a linha colorida – cabelos (as vezes compridos), o nariz e as orelhas de linha preta, a boca, vermelha. As caixas de sapato eram as casas das nossas bonecas, pois minhas primas também traziam as suas para a tarde de brincadeiras. Aos sete anos me encantei com um boneco de celuloide que estava no leilão para ser oferecido às pessoas, na Festa de Nossa Senhora da Conceição, em Abaetetuba. Chorei pelo boneco, mas não consegui sensibilizar o leiloeiro (rsrsrsrsrs) e outra pessoa arrematou. Certo dia, consegui ganhar um, desses que estavam na moda, sem roupa, róseo. Foi minha paixão.

Continuo apaixonada por bonecas. Tenho umas 50, até importadas, visto que as pessoas próximas me presenteiam. De todos os tipos.

Esse preâmbulo vem em função do filme “Barbie” (EUA, Reino Unido, 2023) que assisti esta semana.

Colado no interesse de meninas por esse objeto de prazer e de brincadeiras, tenho avaliado as inúmeras opiniões sobre o filme, em textos de crítica ou posts nas redes sociais. A maioria amou o filme, outros avaliaram a significativa peça crítica contra o sistema patriarcal, outras transformaram suas análises apontando a tradução da narrativa em avanços da teoria feminista, valorizando a fantasia e o senso hilário de toda essa argumentação. Outros usaram a filosofia como instrumento de análise. Alguns viram o cinema dar um salto qualitativo e afastar-se do recorrente “cinemão americano”.

Pergunto: o que seria, então, o investimento hollywoodiano numa boneca que fez o furor das meninas de classe média, brancas, nos anos 1950, quando foi criada? A euforia em traduzir uma mudança, com a aval do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, escrito e dirigido por Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke, quando o monólito interrompe o contexto antigo e dá a nova dimensão do futuro, reflete-se na sequência inicial quando a boneca Barbie aparece e a criançada que brincava de mãe, com seus bebês, suas cozinhas, o “faz-de-conta’ doméstico de uma imagem materna tradicional estilhaça suas peças infantis e desaparece. A sequência seguinte dá forma a um tempo e um espaço em que a nova imagem feminina vai dar as cartas e projeta uma infinidade de barbies festiva e fantasticamente vivendo suas vidas e o novo percurso a desenvolver as novas ideias de individualidade, novas representações do modelo da fantasia das meninas que adquirem o novo padrão e, com certeza, seguem em paralelo o processo de brincar de bonecas.

Mas o filme, em formato fantástico, segue o novo produto, cujo protótipo assumiu novos patamares na ambiência social, buscando as significações que interrogam os porquês da inexistência daquele mundo em que tudo é perfeito, onde as bonecas estão mais evidentes do que os bonecos. Convivem, mas não se imaginam importantes porque o produto comercializado para satisfazer o desejo das meninas é marcado pela figura feminina da Barbie. E onde ficam as consumidoras do produto que segue reorganizando as demandas sociais pelo divergente? Elas veem que não há somente modelos brancos, cabelos louros, mas os tipos multiplicam-se em várias cores, em indumentárias pouco conhecidas em diversos países e, francamente, não intercambiam oralidades, pois, se a Barbie fala com suas congêneres, a indústria de brinquedos já deu sinal de que outros modelos de bonecas tendem a dialogar com suas pequenas e adolescentes consumidoras.

E então há o intercâmbio com o mundo real, na figura de duas mulheres que expõem à boneca original, quais as situações que ela deixou de viver, porque não entendeu o seu viver naquele mundo perfeito e, em dado momento, os Kens assumiram o poder e as deixaram de fora, sentindo-se um produto a mais na investida fantástica, mas não na comercialização industrial – pelo menos no mundo real das consumidoras e na própria reforma industrial interposta pelos membros da empresa produtora do brinquedo. Veja-se: se as meninas adquirem a Barbie, o Ken nem sempre é desejado, mas aos poucos figura como “o par da boneca”. E sua presença é um adendo a mais na configuração da situação do desejo que as adolescentes veem emergir de sua sexualidade. Diga-se, os dois bonecos são assexuados, sabendo-se disso a partir de uma afirmação da Barbie a um senhor que insiste em não deixar que ela encontre alguém em seu bar (ou coisa assim). Se ela diz que não tem vagina, Ken, seguro do que diz, nega que não tenha o pênis.

E o jogo de poder continua entre as dificuldades de Barbie entender o processo pop que está se desenvolvendo em torno de si e suas congêneres e o aumento do poder que os Kens assumiram e tomam, inclusive a direção das normas que definem quem é quem naquela sociedade em que homens e mulheres ou bonecos e bonecas brincam de manter a autoridade.

É pela malicia de uma mentirinha de amor que o problema se desfaz. Barbie insinua-se sentimentalmente a fim de Ken e este se envolve com ela enquanto o coletivo de barbies pega o caminho da distração do líder e consegue assumir o poder, desmonta as normas da constituição e desfaz o que estava sendo vivenciado pelas bonecas num tempo em que elas se sentiam empoderadas.

E as consumidoras da Barbie, como ficam? Se elas não tinham diálogo com a boneca que amaram certo dia, o que ocorreu? Nos caixotes onde as guardaram depois de adultas, buscam hoje para rever o papel que representaram na vida delas? Viram sua vivência com a sociedade estrutural machista? Perceberam o percurso comercial das bonecas para a casa das meninas brancas e riquinhas? Entenderam isso como o trabalho feminista de evidenciar as sub-normas que definiram seus papeis sociais?

Nesse caso, enquanto a fantasia trata as Barbies dando um salto qualitativo nos avanços da mudança dos papeis femininos, eu, nos meus botões, sinto que ficou faltando a interlocutora principal que são as garotas que brincam de bonecas. Se nós, em tempos pretéritos, conversávamos com as nossas bonecas de pano, e definíamos onde elas iriam morar (rsrsrsrs) ou vestir, nos dias de domingo, por exemplo, as meninas que ganharam uma Barbie, o que fizeram? Guardaram-nas nas estantes para enfeitar uma sala? O quarto?

Ah, a narrativa cinematográfica, deu seu peso forte no processo dinâmico, expôs uma cinegrafia exemplar – os tons de rosa multidiversos (meus olhos cansaram de ver tanto róseo), composição das sequencias, em que as cenas se intercruzaram, apontando uma configuração estética traduzida de forma particular, em que as peças do figurino seguiam a perspectiva das mudanças de ponto de vista da boneca original absorvida com os resultados de suas instigantes ideias pós diálogos com mulheres reais. Então, a ideia final é de que a Barbie original mudou, tanto que na última sequência do filme ela vai consultar um ginecologista.

Não senti que o feminismo em processo nos estudos atuais tivesse amparo nas indagações da diretora Greta Gerwig que transferiu à Barbie suas angústias e a presunção de reconhecer que seria possível, o cinema fantástico nessas imagens satisfazer a linhagem feminista que augura novas formas de pensar, hoje, sobre o sistema patriarcal e o machismo sistêmico. Estou com estas atuais indagações.